❛Just keep looking at me. No one else matters.❜
FLASHBACK . As noites sempre eram piores. Quando fechava os olhos, parecia sempre estar sendo engolida novamente para a escuridão que envolvia os pesadelos que teve. Mesmo que possuísse agora a bênção para protegê-la, Anastasia não acreditava que era o suficiente. Os sonhos ruins jamais paravam e era por isso que, na maioria das noites, sempre entrava silenciosamente no chalé de Bóreas para dormir com Santiago. Havia algo sobre a presença do amigo que tornava os pesadelos mais suportáveis, mesmo que temesse que jamais fossem a abandonar. Novamente, tinha acordado sem ter certeza de onde estava. A respiração estava ofegante, levantando-se da cama como se ela estivesse infestada com as cobras com as quais estava sonhando. Podia praticamente senti-las deslizando pelas pernas e pelos braços, desejando ter um pouco de Anastasia para si, infestando e provando. Escutava os chocalhos e os chiados das serpentes, que tinham se tornado parte intrínseca das noites dela. Mal tinha notado que estava chorando encolhida em um canto do quarto até notar a aproximação do amigo, tirando-a das lembranças que pareciam dilacerar o peito de dentro para fora. Subiu o olhar e focou no rosto de Santiago. Ali, encontrou um pouco da calmaria de que tanto precisava e esqueceu dos pensamentos que a levavam para a caverna novamente. Em um gesto familiar e natural para a filha de Afrodite, permitiu se afundar no abraço dele para que se lembrasse de onde estava. Com quem estava. Afundou os dedos nas costas alheias, a cabeça apoiada como se tivesse medo de soltá-lo e ser transportada para o pesadelo novamente. Ele era real. Ela era real. Agarrou-se ao aroma dele, à sensação dos braços ao seu redor e à voz que parecia carregada de preocupação. As lágrimas não escorriam mais pelo rosto e os chiados não eram mais tão altos a ponto de sequer conseguir pensar. Quando finalmente se afastou, deu um suspiro e um pequeno sorriso apareceu nos lábios dela. "Eu estou bem."
Anastasia assentiu com a cabeça, como se estivesse absorvida em um transe. A situação ainda parecia um tanto irreal na cabeça dela, mas tudo que envolvia o Acampamento nos últimos tempos parecia como um grande pesadelo. "É verdade. Ela é uma das pessoas mais doces que eu conheço aqui." Esse era um dos motivos que Anastasia sempre desejou protegê-la ali dentro. Adorava treiná-la em relação à espada e estar presente nos dias dela, porque Melis era carregada de uma bondade e gentileza inerente. Tornava os dias cinzentos nos mais brilhantes, se é que fazia algum sentido. Talvez esse fosse um dos motivos que fazia com que aquele fardo se tornasse ainda mais pesado. Voltou-se para a irmã meio assustada pela sugestão da outra, sequer pensando que alguém tinha morrido. Para ela, eles tinham, no máximo, apenas se machucado. "Acredito que sim. Você não acha que Hefesto seria tão mórbido a ponto de televisionar se eles estivessem mortos, seria?" Mesmo que tivesse certo afastamento em relação aos deuses (exceto, é claro, a mãe e Atena), nutria certa esperança em relação ao homem. Não era tão justificado, mas talvez tivesse lido livros de mitologia o suficiente para que acreditasse que podia ser bondoso. O peito apertava toda vez que sequer pensava na possibilidade da amiga não estar tão bem assim, então logo retirava o pensamento da cabeça. Precisava acreditar que estavam todos bem na medida do possível ou acabaria enlouquecendo. "E não acho que a Melis voltaria para me assombrar, nem o Arthur. A Katrina, no entanto, com certeza me assombraria. Ela é meio esquisita comigo." Não que se preocupasse, de qualquer forma. Jamais foram próximas e trocavam, muitas vezes, algumas palavras desgostosas, mas nada que a fizesse odiá-la a ponto de desejar a morte da semideusa. "Mas espero que esteja viva também. Não vou ficar desejando a morte de ninguém."
Zevliyah estava sobre a cama da irmã, abraçada com um dos travesseiros dela, pensando em tudo e em nada com seus botões. Do mesmo jeito que a outra se sentia mal quando pensava em Melis, ela própria se sentia desejando sumir do mapa quando pensava em Tadeu: ambas sentiam que poderiam ter feito muito mais, podendo salvá-los, ajudá-los bem mais do que haviam conseguido até então. E era isso que machucava Zev naquele instante, enquanto suspirava e também aspirava a essência do perfume de Anastasia sobre a capa daquele travesseiro a que se agarrava. "É claro que vai! A Melis é uma das pessoas mais gente boa que eu conheço nesse lugar. Se fosse eu ou você na posição dela, dificilmente, mas ela?" Franziu o cenho conforme refletia sobre a indagação dela. "Quero dizer... Você acha que podem estar vivos, então? Eu tento não desacreditar disso, mas às vezes... É meio difícil." Engoliu em seco ao que os olhos claros repousavam sobre a figura da irmã naquele momento. "Tadeu não me perdoaria, provavelmente. Eu juro que tentei puxá-lo pra cima... Você acha que eles poderiam voltar pra... 'Cê sabe..." A frase se perdeu no ar por alguns instantes, sentindo-se arrepiar com a menção que se seguiu. "Voltar pra assombrar a gente?"
# ʚ♡ɞ STARTER para @kerimboz em arena de treinamento .
Ficou observando o treinamento alheio de longe. Sabia que não deveria ter saído da enfermaria, principalmente pela frequência que os curativos precisavam ser trocados, mas estava enlouquecendo ficando deitada naquela cama, sem ter certeza de quando seria liberada. O que mais a assustava, no entanto, era a possibilidade das cicatrizes. A mão tocou, inconscientemente, o curativo maior que estava em seu rosto. A preocupação encheu o peito dela, mas, antes que pudesse surtar a respeito daquilo, viu que o amigo se aproximava. Um sorriso apareceu nos lábios da semideusa, mesmo que fosse pequeno em decorrência da pele machucada. Sempre que sorria, sentia que a pele repuxava e não desejava fazer com frequência, temendo uma possível cicatriz horrorosa. Não aconteceria, precisava ser positiva. "Seu dia deve estar bem mais entediante sem mim aqui para criticar o seu método." A provocação saiu naturalmente, cruzando os braços contra o peito. As bandagens eram visíveis nos braços machucados, mas sabia que o outro não ligaria. "Espero que esteja treinando os campistas bem."
the way that i feel when i'm dancing with my girls ...
é apenas ANASTASIA DE BRAGANÇA, ela é filha de AFRODITE do chalé 10 e tem 25 ANOS. a tv hefesto informa no guia de programação que ela está no NÍVEL 3 por estar no acampamento há 13 ANOS, sabia? e se lá estiver certo, NASTYA é bastante DETERMINADA mas também dizem que ela é ARROGANTE. mas você sabe como hefesto é, sempre inventando fake news pra atrair audiência.
i got a credit card and some good company !
ʚ♡ɞ RESUMO .
Anastasia cresceu em um ambiente de opulência e privilégio, onde sua maior preocupação era qual presente extravagante receberia do pai. Filha de uma família rica com uma linhagem real, ela foi mimada desde o berço, embora sua mãe tenha falecido em um trágico acidente de carro quando Anastasia ainda era muito jovem (pelo menos, era o que o pai dizia a todos). Aos treze anos, enquanto desfrutava de sua vida protegida em uma mansão em Los Angeles, sua realidade foi abruptamente interrompida por um ataque que tirou a vida de seu pai e a forçou a enfrentar a verdade sobre sua identidade como semideusa. Levada ao Acampamento Meio-Sangue, Anastasia descobriu sua herança divina como filha de Afrodite, mas também teve que aprender a controlar seus poderes emocionais, que muitas vezes a deixavam se perguntando sobre sua influência nas emoções dos outros.
ʚ♡ɞ HEADCANNONS .
Nascida em uma família rica que descendia da família real portuguesa (Anastasia nunca ligou muito para a história, então não sabe muito sobre aqueles que vieram antes dela), os primeiros anos de vida foram a parte mais fácil da vida dela, que a única preocupação era se ganharia a motinha que tinha pedido para o pai. A mãe dela? Coitadinha, tinha morrido em um acidente de carro, acredita? Mas tudo bem, porque nunca faltou nada para a garota! Não importava-se com nada além do seu dia-a-dia, que era ser paparicada com vários inúteis rosas e caros, apenas para garantir um sorriso no rosto da herdeira da fortuna que ninguém sabe de onde veio (se é que você me entende). Era uma criança adorável, pelo menos até que abrisse a boca para berrar que alguma coisa não estava ao agrado dela. Por onde andava, chamava atenção, fosse pela beleza ou por ser petulante com sua língua gigantesca, pronta para comentar algo que definitivamente não era da sua conta.
Essa realidade durou muito tempo até os 13 anos, em um dia de inverno que parecia comum. Anastasia já estava falando toda a lista do que queria ganhar naquela época, o que incluía os novos tecnológicos e vários itens de beleza da Sephora. Foi quando teve o ataque na propriedade da família em Los Angeles, bem quando estava assistindo alguma coisa na televisão. O pai não conseguiu sobreviver, mas conseguiu esconder a menina embaixo da mesa. Mesmo que Anastasia não tivesse a menor noção do que era, o homem sabia desde o começo, pois conseguia enxergar através da névoa. Quando viu a invasão na mansão, não houve nenhuma dúvidas do que aconteceria. Nenhum segurança seria capaz de manter a criatura longe de Anastasia, sedento pelo sangue da menina de cabelos longos e loiros. A memória do último sorriso do pai, manchado por sangue, permaneceu viva em seus pesadelos durante anos.
Foi levada para o Acampamento Meio-Sangue depois de ser abordada por um policial que entendeu o que tinha acontecido, afinal quem mais acreditaria quando Anastasia falasse que um monstro apareceu do nada e matou seu pai? Quando falou isso para os investigadores, recebeu olhares que diziam: coitadinha, enlouqueceu completamente. Ao finalmente chegar naquele lugar que representaria um pouco de conforto para o coração machucado, a filha de Afrodite percebeu como era fraca em tudo que se propunha. Aquela menina tagarela tinha sido substituída por uma criança traumatizada e que vivia chorando de saudades do genitor, que jamais chegaria a ver. A pessoa que ficou com a sua guarda, uma tia brasileira que coincidentemente estava vivendo nos Estados Unidos, não ligava nenhum pouco para o que estava fazendo, então passava mais tempo no Acampamento Meio-Sangue que qualquer coisa. Não que fosse ruim: estava aterrorizada pelo que tinha vivido, não desejando sequer sair pelos limites. Depois de muitas conversas com o Sr. D e, principalmente, Quíron, compreendeu que precisava treinar para que aquilo não acontecesse novamente. Assim, começou a treinar incansavelmente todos os dias.
Demorou cerca de 3 anos para ser reclamada pela mãe e, quando finalmente foi, as peças em sua mente começaram a se encaixar. Já havia percebido os olhares que recebia, ainda mais quando pensava que um crush podia muito notar ela e, tcham, do nada, ele só tinha olhos para Anastasia. O poder foi difícil de ser controlado, principalmente porque ela impunha as próprias emoções inconscientemente na maioria das vezes. Muitas vezes, ficava se questionando se os outros realmente se sentiam aquilo a respeito dela ou era ela própria controlando inconscientemente o que sentiam. O término com o primeiro namoradinho, inclusive, foi principalmente porque a filha de Afrodite teve um surto, acreditando que jamais tinha sido amada verdadeiramente e estava controlando ele o tempo todo. Mesmo nos dias atuais, com os poderes completamente sob controle, Anastasia pega se perguntando se está manipulando as emoções alheias.
Saiu do Acampamento Meio-Sangue em pouquíssimas situações, pensando que talvez poderia viver uma vida sem medo, afinal o que tinha acontecido ocorreu a tanto tempo atrás. Mesmo com a espada e todo o treinamento perfeito que recebeu, ainda sim Anastasia temia andar pelas ruas e alguém querido acabar ferido. São momentos de constante medo e dúvidas, que fazem com que fique emocionalmente inconstante, o que faz com que manipule aqueles ao seu redor.
ʚ♡ɞ HABILIDADES && PODERES .
MANIPULAÇÃO DE EMOÇÕES. A capacidade de manipulação das emoções de Anastasia é uma ferramenta poderosa e complexa. Além de simplesmente influenciar as emoções das pessoas, ela pode intensificar essas emoções, tornando-as mais fortes e dominantes. Esse controle pode ser exercido de forma sutil, moldando percepções e reações de maneira discreta, útil em situações sociais delicadas ou em manipulação política e diplomática.
Ela também pode induzir emoções específicas de acordo com sua vontade, como instilar um sentimento de confiança em alguém inseguro, ou despertar sentimentos de culpa em alguém que está agindo de forma prejudicial. Entretanto, manipular emoções pode ter consequências imprevistas e efeitos colaterais. Por exemplo, intensificar demais a paixão de alguém pode levar a comportamentos impulsivos e irracionais, ou induzir sentimentos de raiva em vez de amor. A filha de Afrodite precisa ser cautelosa ao usar seus poderes para evitar causar danos emocionais.
HABILIDADES. Fator de cura acima do normal e reflexos sobre humanos.
ʚ♡ɞ EXTRAS .
Altura. 1,63 m. Tatuagens e piercings. Possui diversos piercings na orelha, mas não possui nenhuma tatuagem (ainda).Traços positivos. Determinada, elegante e extrovertida. Traços negativos. Arrogante, insegura e excessivamente protetora. Inspirações. Elle Woods, Sidney Prescott e Aphrodite (House of Night). Instrutora de armas específicas (espada).
O esbarrão, que veio do nada, fez com que ficasse subitamente confusa. Mesmo que tenha pressentido alguém se aproximando de maneira esquisita, Anastasia não teve muito tempo para reagir, desviando o suficiente para que não caísse. Demorou cerca de dois segundos para processar quem era e, ao fazê-lo, não soube muito bem o que falar. A situação entre as duas não estava das melhores, mesmo que antigamente costumavam ser inseparáveis. É claro que, ao longo dos anos, houve um estranhamento da filha de Afrodite com alguns amigos que nutria, ainda mais em decorrência do último rompimento. Olhava para eles como se não soubesse quem realmente gostava dela, não sabendo o que era verdade. Será que tinha implantado tudo aquilo inconscientemente? Não sabia ao certo ainda. "Certo." Desviou os olhos, a fala saindo esquisita. "Você se machucou?" Havia um leve tom de preocupação na voz, mesmo que fosse mais imperceptível, sendo mascarado pela uma grossa camada de indiferença.
˛ ⠀ ⠀ ♡ ⠀ ⠀𝒄𝒍𝒐𝒔𝒆𝒅 𝒔𝒕𝒂𝒓𝒕𝒆𝒓 𝒘. @ncstya ;
o quanto valia a pena ser instrutora? claro que gostava dos recém chegados, eram ótimos e tinham uma sede por conhecimento que até podia ser descrita como invejável. o problema era quando as coisas saiam do controle, com adolescentes cansados e assustados com o que estava acontecendo. controlá-los era mais difícil do que encarar uma hidra. como se não estivesse cansada o suficiente, sua turma sugava o restante da sua energia. consequentemente, tornava-se mais distraída, ao ponto de tropeçar em uma raiz de árvore e esbarrar em alguém a sua frente enquanto entrava na área dos chalés. ⠀⠀"⠀⠀pelos deuses, mil desculp...⠀⠀"⠀⠀parou assim que viu a figura em sua frente. anastasia parecia bem, na medida do possível, se é que tinha como. limpou a mão na calça, com a expressão neutra.⠀⠀"⠀⠀foi mal, eu 'tava distraída com outras coisas.⠀⠀"⠀⠀
"Geralmente não sou eu a pessoa que faz isso." O que era verdade, já que estava acostumada aos outros tentarem conquistar o coração da filha de Afrodite. A maioria, na verdade, sempre estava mais interessado em ter algo belo do que em Anastasia em si. "Talvez eu seja algum dia, nunca se sabe. Acho que você terá que esperar para descobrir." A fala saiu misteriosa, mas um sorriso brincalhão apareceu nos lábios dela, evidenciando o humor. Ao seguir o movimento dele, no entanto, olhou o quão alto estavam e um enjoo apareceu. "Aqui é alto, né?" As mãos cerraram-se no moletom que ela tinha repousado em seu colo.
𓂅 ˙ ˖ ⠀ ⠀ ❪ 𝐂𝐋𝐎𝐒𝐄𝐃 𝐒𝐓𝐀𝐑𝐓𝐄𝐑 ❫
com: @ncstya
ela disse: “ what is that key? the key to your heart? ”
na roda gigante monte olimpo
" Não sabia que era adepta de cantadas como essas, Anastasia. " comentou com um sorriso, levando a mão até a chave que carregava em seu pescoço, uma lembrança boba de sua mãe. " acho que você precisa ser mais persuasiva do que isso para descobrir a origem dessa chave, quem sabe você descubra como chegar até meu coração. " soltou uma piscadela para ela, recostando-se no assento para admirar a paisagem abaixo.
ʚ “by the way, thank you… for saving my life.” .
ʚ com @davinverlac .
ʚ em artes e ofícios .
Um sorriso apareceu nos lábios de Anastasia quase automaticamente. Sentia que estava respirando com dificuldade desde que tinha deixado Melis cair, uma preocupação constante em seus ombros. Não estava permitindo que a culpa a devorasse como faria antigamente. Utilizava o acidente que tinha ocorrido como madeira para a raiva e a indignação, fazendo com que pensasse nos próximos passos. Ansiava, mais do que tudo, ir atrás da semideusa e desculpar por não ser capaz de segurar em algum lugar que ela não fosse escapar pelos seus dedos. "Eu sempre te salvaria, Davin." Foi sincera em suas palavras, sentada ao lado dele enquanto tocava algumas notas no piano. Fazia tempo que não dedicava-se em tocá-lo corretamente, já que, por muito tempo, a música foi algo esquecido por ela. "Você não precisa me agradecer por isso."
Uma risadinha saiu dela, mesmo que inconscientemente. Ele era tão previsível não querendo ser chamado daquela forma que fazia com que a filha de Afrodite quisesse apenas chamá-lo daquela forma, esperando alguma carga elétrica escapar. Pendeu a cabeça para o lado, achando um pouco de graça da situação que se encontravam. "Sem graça? Prefere que eu te chame como? Rayray?" Um tom de zombaria se fez presente na fala de Anastasia, assim como um sorriso de canto que fortalecia a expressividade dela. Sentia falta das provocações trocadas com o outro, assim como da intensidade que os acompanhava constantemente. Tinha sido sua decisão, no entanto, colocar um fim em tudo. Era melhor assim, já que não sabia se estava constantemente o manipulando para que a amasse inconscientemente. Esse seria, talvez para sempre, a maior fonte de incerteza que carregava no peito: será que permitiria amar um dia verdadeiramente? Teve um vislumbre daquilo com o outro, mas não permitiu viver por muito tempo. “Não te afeta?” O sorriso alargou-se ainda mais, sabendo que poderia facilmente aquilo não ser mais verdade. A destra foi habilmente para o colarinho alheio, desamassando com concentração o tecido, mantendo os olhos fixos nos dele. Mesmo quando estava de acordo com os padrões de Afrodite, Anastasia permaneceu brincando com o tecido, apenas em uma leve provocação. Mesmo que não namorassem mais, não aceitava que não tinha mais efeito sobre o semideus, então faria de tudo para que obtivesse alguma reação que aprovasse o suficiente. “Veremos sobre isso.” A frase era carregada de desafio, assim como uma provocação inerente. Gostava de ser desafiada, sendo naturalmente competitiva, e Raynar parecia trazer isso à tona. Lembrava-se dos momentos do relacionamento que, mesmo carregados de carinho, havia aquela intensidade que era tão familiar entre os dois. Eram por lembranças como aquela que continuava conversando com o outro, mesmo sabendo que deveria simplesmente ignorá-lo e seguir com a vida, sabendo que poderia ter cometido um erro. Afastou-se dele, tomando um longo gole da bebida, não importando-se em parecer elegante ou bonita, como geralmente fazia. Com o álcool no sangue, talvez tornasse a interação um pouco mais fácil. “Você acha mesmo que eu escolheria alguém que eu não tenho o mínimo de afeto ao invés de destruir relacionamentos alheios aqui?” A brincadeira saiu facilmente dela, mesmo que tivesse um fundo de verdade. “E você é muito melodramático por estar se chamando de vítima. Poderia muito bem virar e ir embora, mas continua aqui.” O que parecia bem óbvio para Anastasia, que sorriu provocativamente para ele. Ainda sim, que o outro se fizesse de vítima o quanto quisesse se isso ajudasse ele a dormir melhor de noite. Talvez o teatrinho fosse ajudá-lo a aceitar melhor a presença dela. “Você sabe muito bem que adora conversar comigo, amor.” Tomou o resto do drink, pensando se deveria pedir outro. Os pés já estavam começando a estar leves, assim como a cabeça levemente propensa a tomar péssimas decisões, mas talvez fosse o que estivesse precisando naquela noite.
Os olhos azuis reviraram nas órbitas e caíram na silhueta alheia, a respiração saindo forçada pelo nariz. “ 🗲 ━━ ◤ Se é isso que vai fazer você dormir à noite, quem sou eu para quebrar a ilusão? ◢ Aquela provocação constante de Anastasia era melhor do que qualquer lugar ou pessoa daquele Baile. Trazia uma familiaridade tão bom que a irritação manteve-se baixinha, o suficiente para que as respostas continuassem vindo. “ 🗲 ━━ ◤ Amor. Desculpe. Esqueci de usar o apelidinho sem graça. ◢ E aquele limite ele não passaria. O término rondava na parte de trás da cabeça, uma memória vívida e contida pelo tempo que se sucedeu. Raynar sentia a garganta coçar com o tom mais alto, a discussão entre eles e os dedos apontados. Ah, como tinham sido. O agora ainda com gostinho de passado, mas sem a cobrança invisível de explicação por poderes que não tinham sido usados. “ 🗲 ━━ ◤ Não? Então não vai mudar nada. Isso não mais me afeta, schnucki. ◢ Bom, tinha uma última tentativa antes de desistir de vez de conseguir algo para beber. Dionísio passava por perto quando Raynar levantou a voz num tom bem irritado. “ 🗲 ━━ ◤ Que seja! Se não consigo uma bebida aqui, melhor mesmo é deixar você falando sozinha. ◢ Surpreso, a bebida foi entregue com alguns segundos de diferença. E pelo cheiro, o deus do vinho não estava para brincadeira. “ 🗲 ━━ ◤ Obrigado pela dica. Ser como você, às vezes, dá resultados positivos. Agora, mate minha curiosidade: você tem alguém para pegar no pé? Não posso ser a vítima escolhida por ter vindo sozinha. ◢
Sabia o porquê dele querer tanto fazer aquilo. Eram tão semelhantes e, muitas vezes, esquecia daquilo. Tinham vivido muito juntos; devido a isso, os pensamentos sempre pareciam estar sincronizados de uma forma que não compreendia muito bem. Mesmo assim, quando olhava para ele em algum momento, havia algo que não conseguia compreender muito bem. Batalhava com a necessidade de olhar para a mente alheia e desbravá-la na confusão de emoções que tinha encontrado anteriormente, com a ponta de desejo que ainda fazia com que desejasse perguntar o que significava. Mais ainda, no entanto, era o medo de invadir e ver o vazio que a tinha assustado enquanto estavam na Ilha de Circe. Quando os olhos alheios se fecharam, Anastasia sentiu falta de vê-los e quase pediu para que Santiago os abrisse novamente para que continuasse a admirá-los e interpretá-los devidamente. Poderia passar o dia inteiro pensando enquanto o olhava. "Se você não se recuperar, vai fracassar e eu não quero que faça isso consigo mesmo." Ao mesmo tempo que repreendia, a voz era carregada por medo implícito. Sabia que Santiago era muito mais preparado que muitos daqueles que tinha perdido ao longo dos anos ali, mas a mente inconscientemente voltou-se ao pai e àqueles amigos que não estavam mais presentes na sua vida. Se pudesse, provavelmente o impediria de ir naquela missão e imploraria para ficar. Seria injusto, no entanto, sabendo que ela mesma não desejava esperar mais um segundo sequer na própria angústia.
Sentou-se na beira da cama dele, encarando a imensidão dos olhos claros. Compreendia o sentimento conflituoso com o qual ele batalhava. Anastasia não tinha ficado encamada, mas sabia como era o sentimento de impotência diante de alguém que amava sendo ferido. Ela tinha vivido isso através dos pesadelos que Hecate tinha proporcionado. Toda vez que fechava os olhos, voltava para debaixo da mesa, escutando o grito da harpia enquanto o pai tentava protegê-la do monstro. Pensar que, novamente, tinha fracasso em salvar quem amava fazia com que o próprio coração ficasse em frangalhos. Mais do que qualquer um, sabia as consequências dos erros que realizava. Era por isso que não desejava que Santiago tomasse o mesmo rumo que ela. Precisava que o semideus estivesse em sua melhor condição para que pudesse enfrentar o que encontrariam em breve. Não permitiria que fizesse tudo aquilo sozinho. "Okay. Eu vou junto." A decisão foi tomada como se o outro não tivesse voz naquilo. Sabia que, mesmo que ansiasse fazer com que ele não fosse em uma missão atrás delas, era algo que não conseguiria. Mesmo fraco, observava a determinação dele com mais admiração do que deveria. Novamente, mais um pensamento engavetado em algum lugar fundo da mente enquanto tentava não se afogar nos olhos dele. "Elas estão vivas. Sinto isso." A esperança fazia com que o brilho voltasse para o rosto da filha de Afrodite. Não permitiria que nenhum deles perdesse um sentimento tão importante para eles, ainda mais em um momento tão difícil. Para ela, era ainda mais importante que Santiago acreditasse naquilo também. A dor do outro poderia ser facilmente manipulada por ela, mas não faria isso. Mesmo que ansiasse tomar toda a dor dele para si, o mais certo, em qualquer ocasião, era apenas demonstrar o apoio nos momentos certos. E ela queria estar ali por ele. "Nós vamos encontrá-las e trazê-las de volta." Um sorriso apareceu nos lábios dela, tocando suavemente a lateral do rosto dele, fazendo um carinho afetuoso. "Você não precisa fazer isso sozinho. Você tem a mim." Os dedos permaneciam acariciando a pele alheia, tentando não ter a expressão preocupada que parecia quase constante desde que tinha entrado na enfermaria em busca de Santiago. Por um segundo, ficou hipnotizada, a própria existência tendo um segundo lugar em seu corpo. A respiração se tornou mais pesada e o coração parou por um segundo. Piscou um pouco mais forte quando percebeu o que tinha acontecido, voltando a mão para o seu lado rapidamente. "E seus outros amigos também." Acrescentou rapidamente, lembrando do que tinha prometido a si mesma. Não permitiria novamente que qualquer sentimento esquisito ficasse em meio à amizade deles. A conexão que tinham era uma das várias razões de sempre estarem ali um pelo outro. Mais do que qualquer situação que se colocavam, mais do que qualquer sentimento que poderia pendurar entre eles, eram família.
"Eu preciso disso, Santi. Mesmo que falem que a culpa não é minha, meu fracasso foi real." A confissão saiu meio baixa, desviando finalmente o olhar do rosto alheio. Odiava colecionar erros e fracassos, mas era o que estava fazendo. Por mais que tentasse deixar o sentimento para lá, parecia que continuava a perseguir. Mesmo que tivesse salvado os campistas que estavam sendo atraídos para a fenda, mesmo que tivesse conseguido que as pelúcias não tivessem atacado Kitty... Ela continuava com a cicatriz no rosto para lembrá-la de que o mundo sempre tinha consequências. Quanto mais agisse no impulso, mais as pessoas se feririam cada vez mais. "Sei que é egoísta da minha parte até me referir ao que aconteceu assim, mas se aconteceu alguma coisa com Melis, a culpa é minha. Foi culpa minha não ter conseguido me proteger das pelúcias o suficiente para não machucar meu braço. Por isso, não consegui segurar ela e por isso quase caí junto." Desde que as lâminas daqueles animais estufados horrorosos tinham atravessado o braço direito, a força para empunhar a espada não tinha voltado completamente. Tinha percebido isso, mas acreditava que teria tempo para retornar com os treinos mais intensos que estava realizando em combinação com os tratamentos passados pelos curandeiros. Estava completamente errada. "Nós vamos encontrar elas." Combinada com um suspiro, a frase transmitia o que estava tentando acreditar com todas as forças.
Aquela era uma dança familiar–ele reagindo de maneira casual ao fora de ordem, e ela o lendo nas entrelinhas. Eram poucas as pessoas que o faziam sentir visto daquela maneira: de modo geral, era bom em desviar de qualquer assunto mais sério com piada ou indiferença, mas ela confrontava sua esquiva sem medo, e nunca recuava diante das muralhas que por vezes tentava erguer. Não era ele quem devia ser o centro das atenções no momento, não com tudo que havia sido compartilhado aos sussurros na noite anterior. ʿ I don't matter in the great scheme of things. ʾ Foi como insistiu na própria negação, sabendo ser uma dolorida verdade: prontamente teria se sacrificado se aquilo significasse que Kat e Melis estariam em segurança no seu lugar, pois o mundo não pararia sem ele, mas o seu parecia ter parado sem as duas. Com muito esforço, havia colocado de lado os próprios sentimentos a respeito da revelação de que Anastasia havia deixado Melis cair, sobretudo por não confiar em si mesmo para ser justo quando as emoções estavam exaltadas. No momento, só o que queria era se certificar de que, na medida do possível, a filha de Afrodite estava bem, e que estava pelo menos disposta a ouvir que a culpa não era sua–o repetiria quantas vezes fosse necessário, até a fazer acreditar.
Ao senti-la tocar em seu rosto, as pálpebras se fecharam em um reflexo, como se o contato visual fosse quebrar a ilusão de que ela o estava fazendo por outro motivo que não para checar sua temperatura. Aquela era uma das pequenas mentirinhas que contava a si mesmo–em momentos como aquele, era fácil se convencer de que a mesma gravidade avassaladora que o puxava em sua direção também exercia força sobre ela. As enfermeiras já o haviam checado e sabia estar em perfeita saúde mas, invés de o dizer em voz alta, se permitiu aproveitar do pequeno momento de intimidade física, que parecia ter se tornado raro desde a breve estadia na Ilha de Circe. Quis a tomar pelo pulso, levar seus dedos até os lábios, mas só o que fez foi permanecer inerte, a deixando cuidá-lo, uma pequena parte de si encontrando um conforto secreto em saber que ao menos ela se importava. ʿ Eu não tenho tempo pra dormir, Nas. Preciso encontrar um jeito de tirar elas de lá. ʾ Sequer conseguia encontrar forças para dizê-lo em voz alta, como se o fazer fosse tornar aquele pesadelo realidade. Não poderia se importar menos com o próprio bem estar naquele momento, não quando sua visão parecia afunilada: era incapaz de ver qualquer coisa que não o imperativo de as resgatar. Isto é, até ter Anastasia em seu campo de vista.
Aquela era uma distração perigosa. Mesmo enquanto conversavam sobre a seriedade da situação, estava agudamente consciente do quão fácil seria simplesmente a beijar–podia culpar um delírio tardio causado pelo veneno e ter o prazer de a provar de novo. O mundo parecia ruir ao seu redor e, mesmo que a culpa o permeasse, ainda restava espaço em sua consciência para que o desejo tivesse voz, e aquilo o tornava uma pessoa terrível. A oferta de ser sua enfermeira pouco fez para o dissuadir dos pensamentos que não tinham hora ou lugar, mas Santiago os ignorou como se fossem o diabo em seu ombro, escolhendo voltar-se para a luz para variar. ʿ Não tenho a menor intenção de ficar prostrado quando sair daqui. Vou até Dionísio pedir que me deixe montar uma equipe e sair em missão. ʾ Compartilhou, focando na verdadeira prioridade que tinha em mãos, sabendo não ser necessário explicar o objetivo. ʿ Eu não aguento isso. Não poder fazer nada. Não saber nem se elas ainda estão... ʾ Vivas. A palavra tinha um gosto amargo na ponta da língua, e a engoliu invés de regurgitar.
"Se ele não te conhecer de verdade, o amor nunca será verdadeiro." Para Anastasia, um amor verdadeiro é aquele que permitia que não houvesse segredos entre eles. Sempre tinha sido honesta em todos os namoros que teve e, para ser sincera, talvez fosse isso que a assustasse tanto. Como o poder dela permitia que lesse emoções, tudo parecia verdadeiro até demais, muito sensível. Com o medo constante de todos ao seu redor terem o mesmo destino que o pai tivera, era difícil se entregar para alguma tão sincera e real. Amar era uma atividade complicada, o que expressava em quão hipócrita era para falar para Yas não ter medo. "Vai dar tudo certo." Alcançou a mão da amiga e deu um leve aperto, um sorriso aparecendo nos lábios quase automaticamente. Entendia que tudo poderia dar errado, mas era bom ser positiva. Quanto mais incentivasse a outra, mais propensa seria em fazer o Joseph feliz, o que era o suficiente para a Anastasia.
"Eu pego um pouco para nós." Levantou-se do seu lugar, indo até a mesa e pegando um pequeno potinho separado. Sentou-se novamente logo depois de voltar à mesa, um pequeno sorriso nos lábios. Depois de muito tempo, parecia que tudo estava bem novamente. "Ela é muito boa, realmente, mas pegue mais batatas." Comeu mais um pouco, finalmente afundando as batatas no molho.
Entendia Anastasia e o que ela queria dizer. Sim, todos os semideuses tinham um grande problema, ou pelo menos grande parte deles tinha algo a ser resolvido visto que monstros sempre iriam persegui-los. O problema com Yasemin era que ela gostava daquela vida. Gostava de caos, anarquia e principalmente do pânico. E dada suas experiencias no acampamento, se nem mesmo os semideuses gostavam dos filhos de deuses com aspetos mais sombrios, que espaço realmente tinha para ela naquele lugar? Sempre se sentiu reprimida de alguma forma, especialmente pelo uso de seus poderes. ❝ ― Talvez. Será que ele realmente iria querer mesmo me conhecendo de verdade? ❞ — A resposta que ela esperava ouvir era que sim porque Yasemin era leal aos seus, mas entendia que talvez algumas coisas fossem demais para alguns. ❝ ― Honestamente? Eu espero que sim porque gosto muito dele. ❞ — Confessou, olhando para a filha de Afrodite quase como implorando para que ela acalmasse o coração temeroso de algo ruim acontecer.
Acabou suspirando aliviada quando ela trocou de assunto porque não deseja ir mais a fundo naquilo, não era o momento. ❝ ― Sério? ❞ — Ela perguntou conforme roubava uma do prato alheio e comia em seguida. ❝ ― Eles tem alguns molhos na mesa de delicias, deve ter algo lá... Mas ficaria grata já com um ketchup. ❞ — Respondeu logo que terminou de mastigar, pegando outra batata, saboreando da mesma. ❝ ― Sua mãe quis caprichar realmente em tudo hoje. ❞
SCARS to your beautiful .
PLOT DROP : o que aconteceu com Anastasia de Bragança .
trigger warning. menção à ansiedade e leve mutilação.
Sabia que tinha sido ingênua em pensar que suas ações de bravura repentinas, impulsionadas pelo álcool, não teriam consequências. Foram vários dias na enfermaria, implorando para que a mãe permitisse que não tivesse nada que a fizesse lembrar para sempre aquele dia. Mesmo que não fosse próxima de Flynn, havia algo em si que lembrava das lâminas das pelúcias enfiando em suas pernas, em seus braços e, acima de tudo, em seu rosto. Os dedos tocaram o curativo como se soubesse o que estava prestes a acontecer.
PART ONE . THE BRAVE BEAUTIFUL GIRL .
Contexto : Pós interação com Kitty ( você confere mais aqui ) .
Não virou novamente para verificar se a filha de Hades tinha ido embora. Esperava firmemente que tivesse sido esperta o suficiente para correr para longe, já que as pelúcias avançavam cruelmente na direção de Anastasia. Sabia que aquilo aconteceria, mas precisava ganhar tempo para os outros campistas. A espada empunhada, a Sharp Beauty, repousava naturalmente e confortavelmente em sua mão, fazendo com que tomasse a postura defensiva rapidamente. Os primeiros golpes foram dados contra um dos primeiros ursos que tentavam chegar perto e, ao cortar os braços e a cabeça, achou que seria o suficiente. Como estava errada. Quanto mais tentava cortar, mais parecia irritá-los a ponto que chegassem por todos os lados, encurralando ela. A cena era quase cômica se as lâminas não fossem afiadas o suficiente para que brilhassem sob a luz do lugar.
Sentiu o cheiro de fogo, mas estava tão focada em conseguir tempo que sequer teve tempo de olhar ao redor. Mesmo que fossem pequenas, era impossível contê-las para que não atacassem o corpo. O vestido era rasgado facilmente pelas lâminas e Anastasia fazia o seu melhor para desviar, reposicionando com uma postura de ataque. Ainda sim, sentia as lâminas rasparem superficialmente contra a pele das pernas, algo que era um incômodo, mas os reflexos faziam com que desviassem, colocando-se no caminho dos mais fracos e permitindo para que corressem para onde Dionísio tinha indicado. Estava prestes a fazer o mesmo quando sentiu um cheiro diferente, algo que não estava ali antes. Não sabia o que era e viu apenas uma névoa vermelha invadir os olhos, depois as narinas e, enfim, a mente.
O coração pareceu despencar do peito e, então, bater de forma mais acelerada novamente. A mão fechou-se mais forte contra a espada, conforme as lágrimas invadiam a visão. Precisava lutar mais, precisava proteger aquele lugar independente do custo. Olhou rapidamente para o lado, percebendo que aquela fumaça estranha parecia emanar de Aidan, mas não importava. Nada daquilo importava, nem a própria vida. As memórias dela chorando embaixo da mesa da sala, escutando o pai bravamente lutar contra um monstro que sabia que não tinha chance, invadiam a cabeça dela, fazendo com que quisesse permanecer mais e tomar a decisão que, para ela, era a mais corajosa do mundo. Desejava se sacrificar para que todos tivessem tempo de escapar, mesmo que isso significasse que não saísse do pavilhão. Combatia firmemente com as pelúcias, mesmo que estivessem ainda mais agressivas. A cada lâmina que tocava a pele macia de Anastasia, mais um soluço saía dela. Fraca, era fraca, assim como aquela noite que tinha perdido o pai.
Não soube quantos minutos tinha passado ali, mas sentia o corpo fraco. No entanto, recusava-se a dar por vencida, conforme batalhava com as pelúcias e fazendo o máximo para que fossem completamente eliminadas. O corpo dela estava ensanguentado do próprio sangue, mas recusava-se a parar, o coração tomado pela fúria e pela mágoa das próprias ações. Não podia permitir que tivessem perdas aquela noite. Mesmo que a pessoa não fosse alguém que se importasse, com certeza o semideus teria amigos e família e amores; aquelas pessoas se importariam e chorariam pela sua morte. Anastasia sabia que o luto era muito difícil de lidar.
Quando tudo pareceu acabar e escutou a voz de Quíron, anunciando a morte de Flynn, Anastasia caiu de joelhos, as pernas incapazes de sustentá-la. Independente do quanto tinha se esforçado, alguém tinha morrido e era toda sua culpa. Era fraca. Precisava melhorar, devia melhorar. A mente estava enevoada pela falta de sangue do corpo, assim como pela gravidade dos ferimentos no corpo inteiro. Não sabia exatamente quando tinha sido atingida tão gravemente, mas estava tão focada nos próprios pensamentos que sequer teve tempo para pensar em si mesma. Conseguia ver cortes pelos braços, mas sentia o rosto arder em chamas, a dor infiltrando-se em cada músculo facial. Os olhos varreram o ambiente, como se tivesse tentando definir se realmente estava tudo bem. Com um suspiro, se rendeu à escuridão.
Os próximos minutos (ou horas, não se sabe ao certo) foram marcadas por ela recuperando a consciência por alguns segundos. Acordou no chão do pavilhão, desmaio. Estava sendo carregadas por braços que não sabia distinguir de quem era, mas eram fortes o suficiente para colocá-la em algum lugar. "Eu vou morrer." A voz saiu fraca quando decidiu isso para a pessoa dona dos braços que a carregavam, já que talvez fosse a última pessoa que encontrasse. Antes que pudesse absorver mais qualquer coisa, a escuridão a engoliu novamente. Piscou mais uma vez, encarando olhos azuis e realmente quis dizer algo inteligente, talvez algumas últimas palavras inspiradoras, mas tudo que conseguia pensar era que queria dormir. "Se eu morrer, espero que eu não sinta." E, novamente, nada.
Quando acordou na enfermaria, a cabeça estava confusa e o corpo inteiro encontrava-se cheio de bálsamos com faixas. Estava completamente dolorida e confusa com o que tinha acontecido. Sequer se lembrava. Estava tão cansada que decidiu voltar a dormir.
PART TWO . FALLING INTO YOUR OCEAN EYES .
Depois de semanas com as bandagens e curativos, Anastasia tinha criado uma expectativa a respeito dos machucados. Os mais leves tinham fechado perfeitamente nas primeiras horas, principalmente em decorrência da cura mais acelerada. Jamais tinha estado em um processo mais longo de cura, ainda mais quando quase todas as missões que fora aconteceram quando tinha um nível mais profundo de conhecimento a respeito do poder e da espada. O coração batia mais acelerado contra o peito quando recebeu o veredicto que, quando estivesse preparada, poderia remover os curativos do rosto. Aqueles eram os que mais estava ansiosa, para ser sincera. Independente do que tivesse acontecido, esperava que não fosse tão terrível quanto imaginasse. A mãe também tentaria ajudá-la de alguma forma com aquilo, certo? Sabia que Afrodite não aceitaria uma filha que fosse feia sob os olhos dos outros.
Ao chegar no chalé, fechou a porta atrás de si e sentou em frente a penteadeira branca que era decorada por enfeites cor-de-rosa e creme. Precisou de alguns minutos para finalmente tocar no rosto, temendo o que fosse encontrar atrás do curativo. Mais um tempo foi necessário para que a coragem viesse até ela, já que tocava na borda e desistia. Contou até três e, com os olhos fechados, sentiu a cola desvencilhar da pele. Um suspiro saiu dela assim que sentiu o ar tocar a pele que estava escondida durante aquele tempo, aliviando e sensibilizando. Foram dias repletos de agonia e incertezas, algo que não estava acostumada. Fazia tempo que não sentia-se tão mal a respeito de si mesma e do que era capaz. Desde que foi proclamada, Anastasia estava acostumada a ser naturalmente bonita, com o cabelo sempre alinhado, a pele impecável e uma maquiagem inata. Não esforçava-se excessivamente, já que ser filha de Afrodite era o suficiente, mesmo que adorasse passar horas planejando o guarda-roupa da semana e pintando as unhas para que combinassem com as cores que utilizaria.
Quando os olhos finalmente abriram, encarou-se no espelho como se fosse a primeira vez que se visse. O rosto não parecia mais o mesmo, principalmente graças a cicatriz gigante que havia em sua bochecha que descia até o maxilar. As mãos cerraram-se no colo, tentando absorver a imagem que a encarava. Era estranho, muito diferente. Pela primeira vez em anos, a filha de Afrodite se sentiu horrorosa. Mesmo que os olhos azuis fossem os mesmos, a boca cheia continuasse, a cicatriz parecia tomar toda a atenção. Tudo que tinha de positivo no rosto era anulado pela grotesca linha que parecia deformar a pele. O enjoo invadiu antes que pudesse perceber e a mente foi invadida pelos pensamentos negativos que pareciam salpicar em sua mente. Sentia-se como se pudesse morrer naquele momento. O mundo girava ao seu redor, a visão parecendo fazer com que a cicatriz parecesse ainda maior. Como poderia livrar-se daquilo imediatamente? E se olhassem para ela e nunca mais sentissem nenhum desejo? E se zombassem toda que vez aparecesse, porque, além de lutar excessivamente com pelúcias, tinha ganhado aquela lembrança terrível? As pessoas definitivamente nunca mais gostariam dela, já que tudo que importava era como se parecia. Costumava ser perfeita, mas tudo que restava agora era a deformação.
Não percebeu quando começou a chorar, já que a respiração acelerada e inconstante parecia levá-la a um ponto de ebulição. Antes que pudesse perceber o que estava acontecendo, a destra foi para a pulseira e puxou Sharp Beauty. Talvez nem merecesse mais a espada, já que era bonita demais para um monstro como ela. A lâmina atravessou o frágil espelho, fazendo com que as partes caíssem na madeira. O mundo era um borrão dentre as emoções de perda, culpa, mágoa, tristeza e raiva que a invadiam. As lágrimas eram incontroláveis e, por mais que tentasse respirar para se acalmar, assim como tinham ensinado, não parecia o suficiente. Se não era bonita, o que era? O que deveria fazer?
personagens mencionados no pov : @zeusraynar e @aidankeef